Crédito: Stuart Miles |
Até certo ponto, o foco supracitado faz sentido, por que alguns clubes do eixo citado têm torcidas gigantescas; ao mesmo tempo, a concentração excessiva em alguns poucos times, além de cansar o torcedor e eventualmente fazê-lo virar o canal de TV, o priva de informações sobre o que ocorre pelo Brasil e pode, também, ser muito interessante.
Nesta semana, por exemplo, um evento que poderia ter merecido mais espaço na mídia é a final da Copa do Nordeste. Se no Sudeste-Sul esse evento teve relativamente pouca repercussão, no Nordeste do Brasil, ele foi muito prestigiado e gerou presença de público superior àquela de jogos do eixo priorizado pela cobertura midiática. A final Ceará 2 x 1 Bahia foi um belo jogo, como muita emoção.
Retornemos à percepção de foco da mídia em Rio e São Paulo, além dos quatro grandes clubes citados. Por que isso pode ocorrer? O que pode impactar a cobertura midiática do futebol? As respostas dependem do público a quem se dirigem as perguntas em questão, mas, não sendo esse post uma pesquisa com pessoas, o que apresentamos aqui são hipóteses, ou seja, possibilidades para reflexão.
Antes de explicitar as citadas hipóteses, consideremos a tabela abaixo, com as 18 maiores torcidas do Brasil, de acordo com o site Lance Net, para o ano de 2014:
Antes de explicitar as citadas hipóteses, consideremos a tabela abaixo, com as 18 maiores torcidas do Brasil, de acordo com o site Lance Net, para o ano de 2014:
A tabela anterior pode ser segmentada, de maneira que visualizemos os clubes por clusters. Dessa forma, reorganizamos os dados conforme as quatro tabelas abaixo, detalhadas respectivamente para os times do Rio de Janeiro, de São Paulo, Minas Gerais/Rio Grande do Sul e demais clubes:
Note-se que mesmo tendo o Flamengo a maior torcida do Brasil, com estimados 32,5 milhões de torcedores (16,2%), o Rio de Janeiro, com 46,7 milhões de torcedores dos seus principais clubes (23,3%), é a segunda praça de futebol do País, atrás de São Paulo, com 56,3 milhões de torcedores (28,1%). Juntos, os quatro times de São Paulo das tabelas anteriores reúnem o maior contingente de torcedores em relação aos demais clusters.
Note-se ainda que a terceira e quarta praças do futebol nacional são, respectivamente, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul, sendo que os mineiros totalizam 13,2 milhões de torcedores (6,6%), e os gaúchos, 11,6 milhões (5,8%). Em conjunto, mineiros e gaúchos totalizam 24,8 milhões de fans (12,4%), montante inferior às torcidas de Flamengo e Corinthians, as duas maiores do País.
Com base nos números anteriores, acreditamos serem válidas as seguintes hipóteses de resposta à pergunta do título deste post - o que pode impactar a cobertura midiática do futebol?:
1) A primeira hipótese é, de fato, o tamanho da torcida e, consequentemente, do seu potencial de consumo de produtos e serviços exibidos em TVs e outros veículos de comunicação. Os exemplos mais eloquentes são Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras: como eles não receberiam grande atenção da mídia, se individualmente têm mais de 10 milhões de torcedores cada?
2) A segunda hipótese é a importância do clube na história do futebol nacional. Talvez o exemplo mais representativo dessa possibilidade seja o Santos, sediado na cidade de mesmo nome, no litoral paulista e, portanto, algo distante de grandes capitais. O clube conquistou títulos muito importantes, inclusive mundiais de clubes e foi ali que emergiu Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, considerado por muitas pessoas o maior atleta do futebol de todos os tempos. Mas há outros exemplos, como os times mineiros e gaúchos entre outros.
2) A terceira hipótese é o peso econômico e político do local, ou seja, da região. Fluminense e Botafogo têm muito menos torcedores do que Atlético MG, Cruzeiro, Grêmio e Internacional, individualmente raciocinando; entretanto, podem receber maior atenção do que os times mineiros e gaúchos. Há algum tempo, constatamos essa possibilidade em respeitáveis programas esportivos da TV nacional, que se delongaram em algumas sessões, em diferentes dias, discutindo problemas do Fluminense e Botafogo e dedicando bem menos tempo ao futebol mineiro e gaúcho. Isso não significa que Fluminense e Botafogo não se enquadrem, concomitantemente (e até mais) na hipótese 2, haja vista que eles têm um passado de grandes conquistas e glórias.
4) A quarta hipótese corresponde às preferências de elites sócio-econômicas e artísticas locais. Times mais associados a essas elites talvez possam receber atenção em função de que alguns poucos, porém influentes torcedores vibram por eles. Será isso possível? No caso dessa hipótese, não citamos exemplos, mas cremos que ela faça sentido (ao menos como objeto de pesquisa) e que torcedores influentes possam ajudar seus times de alguma forma. Somente sua citação em entrevistas na mídia já constituiria certa divulgação, ainda que não intencional.
5) A quinta e última hipótese aqui contemplada corresponde às preferências dos próprios profissionais de mídia. Essas preferências influenciariam, de alguma forma, a cobertura midiática? Deixemos aqui a pergunta, apenas lembrando que podem existir outras possibilidades não mencionadas neste post.
Finalizamos lembrando que hipóteses são apenas hipóteses, que precisam ser confirmadas, mas é sempre divertido construí-las e refletir sobre as mesmas. E aproveitamos para enfatizar o poder de democratização da internet, que permite, ainda que sem eliminar o foco em determinados clubes, também disponibilizar informações para outros nichos do mercado futebolístico. Quem ganha com isso são os milhões de torcedores pelo Brasil afora.
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