Antes de tecer reflexões sobre o Flamengo neste post, é preciso ter em mente que o futebol carioca não ficou bem na fita no Campeonato Brasileiro ou Brasileirão 2015: nenhum dos três times cariocas da série A ficou posicionado entre os 10 melhores times do torneio, conforme pode ser constatado na tabela a seguir:
Flamengo e Fluminense terminaram o Brasileirão 2015 nas posições 12 e 13, e o Vasco, na posição 18, tendo sido rebaixado à série B, pela terceira vez. Quanto ao Botafogo, este disputou a série B, devendo retornar à série A no Brasileirão 2016. Em que pesem esses números, cada clube de futebol tem seu histórico e especificidades e sobre o Flamengo, pode-se dizer que sob o prisma administrativo, ele tem o que mostrar, além de apresentar boas perspectivas financeiras:
1) Note-se, na figura abaixo, que o Rubronegro foi o único Clube entre os principais do Brasil com resultado do exercício de 2014 positivo e igual a R$ 64 milhões. Todos os demais apresentaram resultados negativos, na faixa de -R$ 7 mi a -R$ 175 mi, substancialmente ampla.
3) Em termos de renda de TV, Flamengo e Corinthians receberão as maiores quantias da Rede Globo, nos próximos três anos: R$ 170 milhões. Segundo Paulo Vinícius Coelho, o PVC (ESPN, 1/10/2013), a partir de janeiro de 2016, prevê-se a evolução dos números abaixo indicada para as receitas egressas da televisão:
Esses números anteriores criam certa disparidade entre os clubes, mas sob o ângulo de Corinthians e Flamengo, não há o que reclamar. Já quanto ao futebol, os resultados precisam melhorar e, sobretudo, com visão de longo prazo:
1) No triênio 2013-2015 e no Brasileirão, o torneio por pontos corridos que realmente mede perfomance de longo prazo, o Flamengo ficou respectivamente nas posições 16 (aproveitamento: 39,5%, considerando pontos cortados pelo STJD), 10 (45,6%) e 12 (43%, conforme tabela inicial). Em 2013, houve a perda de quatro pontos, em função de decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) relativa à escalação equivocada de um atleta, mas se não houvesse tal punição, o Flamengo terminaria o torneio na posição 11 (43%).
2) Em 2015, o Flamengo chegou a disputar a quarta posição do G4, mas não sustentou uma performance capaz de classificá-lo para a Libertadores. Nem mesmo com talentos como o peruano Paolo Guerrero e Emerson Sheik, egressos do Corinthians. Ademais, no ano que findou, o Flamengo teve vários técnicos. Nomes como Vanderlei Luxemburgo, Deivid (interino), Jaime de Almeira (interino), Cristóvão Borges, Oswaldo de Oliveira, Jayme de Almeida (interino) e Muricy Ramalho, contratado após o torneio. Ao todo, sete nomes, sendo seis durante o Brasileirão.
3) Em que pese o melhor resultado econômico, aproveitamentos sempre inferiores a 50% não condizem com a grandeza do time da Gávea. Aparentemente, o lucro foi alcançado não apenas por meio de receitas (o Flamengo teve a maior receita do futebol nacional em 2014, de R$ 347 milhões) mas também via contratações de atletas menos onerosos. Mas terá sido apenas isso? E os efeitos da intensa troca de técnicos? E a aparente falta de lógica na contratação de técnicos? E a capacidade de cada um desses profissionais de extrair resultados superiores mesmo de atletas não brilhantes, especialmente em contexto de tantas trocas de profissionais e de escassez de talentos no futebol nacional?
A recente contratação do técnico Muricy Ramalho, ex-São Paulo, torna-se, portanto e sem dúvida, um dos principais trunfos do Rubronegro para 2016 e ele parece feliz de ali estar. Sugerimos que seja ouvido aqui depoimento recente do técnico sobre sua motivação diante do desafio de fazer o Flamengo crescer. Ao mesmo tempo, consideremos a pergunta do título deste post: Muricy pode ser a grande alavanca do futebol do Flamengo?
A nosso ver, Muricy Ramalho poderá ser um dos principais vetores de sucesso do Flamengo, se puder extrair desempenhos superiores de atletas não necessariamente brilhantes. Esta foi a essência do louvável trabalho de Tite, no Corinthians, em 2015, bem como de Marcelo de Oliveira, no Cruzeiro, em 2013-2014. De maneira conservadora - ou melhor dizendo, prudente -, não se deve esperar que os times brasileiros disponham de talentos excepcionais em 2016, como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho ou Neymar, nem mesmo o Flamengo, mesmo que isso possa até ocorrer pontualmente e, nesse contexto, extrair desempenhos superiores torna-se crucial.
Ao mesmo tempo, há outros vetores de sucesso, como a lógica de construção do futebol e a visão de longo prazo. É preciso que o trabalho pelo futebol do Flamengo se dê dentro de uma lógica a ser construída pelos dirigentes, comissão técnica e atletas, abrangendo o fortalecimento da defesa, do meio de campo e do ataque. E há, finalizando, que existir perspectiva de longo prazo; trocas de técnicos durante campeonatos importantes podem ser sintoma de falta de visão de longo prazo para o futebol que, assim como as finanças organizacionais, também carecem dessa visão.
Bola Pensante
1) Note-se, na figura abaixo, que o Rubronegro foi o único Clube entre os principais do Brasil com resultado do exercício de 2014 positivo e igual a R$ 64 milhões. Todos os demais apresentaram resultados negativos, na faixa de -R$ 7 mi a -R$ 175 mi, substancialmente ampla.
Fonte: Balanço da Bola. Dados para 2014. |
Esse bom desempenho econômico aparentemente teve seu preço, conforme comentado adiante.
2) O Flamengo inscreveu-se no Profut, programa de refinanciamento de dívidas do governo federal, instituído legalmente em 2015, submetendo-se a regras financeiras e de governança que tornam times melhor governados. Em função dessa inscrição, estima-se uma redução da ordem de R$ 88 milhões nos débitos fiscais flamenguistas e os recursos remanescentes poderão ser direcionados para a conclusão de seu centro de treinamento e/ou outros projetos do Clube.
2) O Flamengo inscreveu-se no Profut, programa de refinanciamento de dívidas do governo federal, instituído legalmente em 2015, submetendo-se a regras financeiras e de governança que tornam times melhor governados. Em função dessa inscrição, estima-se uma redução da ordem de R$ 88 milhões nos débitos fiscais flamenguistas e os recursos remanescentes poderão ser direcionados para a conclusão de seu centro de treinamento e/ou outros projetos do Clube.
3) Em termos de renda de TV, Flamengo e Corinthians receberão as maiores quantias da Rede Globo, nos próximos três anos: R$ 170 milhões. Segundo Paulo Vinícius Coelho, o PVC (ESPN, 1/10/2013), a partir de janeiro de 2016, prevê-se a evolução dos números abaixo indicada para as receitas egressas da televisão:
- Flamengo e Corinthians - de R$ 110 milhões para R$ 170 milhões/ano.
- São Paulo - de R$ 80 milhões para R$ 110 milhões/ano.
- Vasco e Palmeiras - de R$ 70 milhões para R$ 100 milhões/ano.
- Santos - de R$ 60 milhões para R$ 80 milhões/ano.
- Atlético MG, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Fluminense e Botafogo - de R$ 45 milhões para R$ 60 milhões por ano.
- Demais integrantes da série A - de R$ 27 milhões para R$ 35 milhões por ano.
Esses números anteriores criam certa disparidade entre os clubes, mas sob o ângulo de Corinthians e Flamengo, não há o que reclamar. Já quanto ao futebol, os resultados precisam melhorar e, sobretudo, com visão de longo prazo:
1) No triênio 2013-2015 e no Brasileirão, o torneio por pontos corridos que realmente mede perfomance de longo prazo, o Flamengo ficou respectivamente nas posições 16 (aproveitamento: 39,5%, considerando pontos cortados pelo STJD), 10 (45,6%) e 12 (43%, conforme tabela inicial). Em 2013, houve a perda de quatro pontos, em função de decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) relativa à escalação equivocada de um atleta, mas se não houvesse tal punição, o Flamengo terminaria o torneio na posição 11 (43%).
2) Em 2015, o Flamengo chegou a disputar a quarta posição do G4, mas não sustentou uma performance capaz de classificá-lo para a Libertadores. Nem mesmo com talentos como o peruano Paolo Guerrero e Emerson Sheik, egressos do Corinthians. Ademais, no ano que findou, o Flamengo teve vários técnicos. Nomes como Vanderlei Luxemburgo, Deivid (interino), Jaime de Almeira (interino), Cristóvão Borges, Oswaldo de Oliveira, Jayme de Almeida (interino) e Muricy Ramalho, contratado após o torneio. Ao todo, sete nomes, sendo seis durante o Brasileirão.
3) Em que pese o melhor resultado econômico, aproveitamentos sempre inferiores a 50% não condizem com a grandeza do time da Gávea. Aparentemente, o lucro foi alcançado não apenas por meio de receitas (o Flamengo teve a maior receita do futebol nacional em 2014, de R$ 347 milhões) mas também via contratações de atletas menos onerosos. Mas terá sido apenas isso? E os efeitos da intensa troca de técnicos? E a aparente falta de lógica na contratação de técnicos? E a capacidade de cada um desses profissionais de extrair resultados superiores mesmo de atletas não brilhantes, especialmente em contexto de tantas trocas de profissionais e de escassez de talentos no futebol nacional?
A recente contratação do técnico Muricy Ramalho, ex-São Paulo, torna-se, portanto e sem dúvida, um dos principais trunfos do Rubronegro para 2016 e ele parece feliz de ali estar. Sugerimos que seja ouvido aqui depoimento recente do técnico sobre sua motivação diante do desafio de fazer o Flamengo crescer. Ao mesmo tempo, consideremos a pergunta do título deste post: Muricy pode ser a grande alavanca do futebol do Flamengo?
A nosso ver, Muricy Ramalho poderá ser um dos principais vetores de sucesso do Flamengo, se puder extrair desempenhos superiores de atletas não necessariamente brilhantes. Esta foi a essência do louvável trabalho de Tite, no Corinthians, em 2015, bem como de Marcelo de Oliveira, no Cruzeiro, em 2013-2014. De maneira conservadora - ou melhor dizendo, prudente -, não se deve esperar que os times brasileiros disponham de talentos excepcionais em 2016, como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho ou Neymar, nem mesmo o Flamengo, mesmo que isso possa até ocorrer pontualmente e, nesse contexto, extrair desempenhos superiores torna-se crucial.
Ao mesmo tempo, há outros vetores de sucesso, como a lógica de construção do futebol e a visão de longo prazo. É preciso que o trabalho pelo futebol do Flamengo se dê dentro de uma lógica a ser construída pelos dirigentes, comissão técnica e atletas, abrangendo o fortalecimento da defesa, do meio de campo e do ataque. E há, finalizando, que existir perspectiva de longo prazo; trocas de técnicos durante campeonatos importantes podem ser sintoma de falta de visão de longo prazo para o futebol que, assim como as finanças organizacionais, também carecem dessa visão.
Bola Pensante
Flamengo é uma bagunça política. Murici somente atua bem em times organizados.
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